Ninguém acreditava que conseguiria entrar no exército, mesmo porque, como já falei antes, era de cada pra igreja, da igreja pra casa e casa escola, escola casa. Magrinho e meio pálido como muitos mim chamava e de um jeito sensível. Jãiltão – como ele assim é conhecido, um grande amigo meu, só acreditou quando mim viu fardado. E tantas outras pessoas. Na época que fique no Exército era um desejo da maioria dos jovens principalmente de Laranjeiras. Era, no vê de muitos, uma coisa linda!. Mas eu consegui entrar, (também não sei como), mas consegui! Nos dois anos que lá passei foi assim: Bisonho – é aquele que quando era pra levantar o braço direito, levantava o esquerdo e assim sucessivamente. Mim chamavam de bisonho, em Laranjeiras mim chamavam de Soldado Mirim. Não mim dei muito bem nessa história de militar não, achava que ser militar era ser mais que alguém – superior a quem não era militar. No quartel recebia ordem de todo mundo. Na rua queria mandar! E assim foram dois anos. Aprontava muito e saia sempre em equipe para as boates e festas em Aracaju, principalmente para barzinhos onde freqüentavam muitos militares no 18 do Forte, chamado Piripiri. Lá tinha tudo que você imaginasse principalmente mulheres – o mais comentado pelos militares. O que eu mais fazia era namorar, tomar as namoradas dos outros e brigar. Por falar nisso, teve uma vez que eu e mais outro colega fomos para um motel mais duas companheiras. Nesse motel entramos no sábado e só saímos no domingo. Não pagamos nada e ainda batemos no vigia que lá estava fazendo a segurança. Por causa disso, fomos anuncio na rádio de Laércio Miranda (no Estado todo). Saímos correndo pelo matagal que circula esse motel e entramos na BR – saída e entrada de Aracaju, e fomos pego por um policial federal a paisana com revolver na mão. Ele nos amarrou numa carroça de um carroceiro que ia passando e queria levar a gente no porta-mala do carro – sob alegação de que “éramos marginais perigosíssimos” – citava o policial. Foi quando disse quem éramos militares e o mesmo não acreditou, foi convencido por intermédio de documentos que portávamos do exército. Ficamos presos no Quartel do Exército por mais de dois meses e pagamos todas as despesas através de contra-cheques que já vinham descontados. Na minha cidade a época, era o que mais se comentava! Muitos dos oficiais do comando do quartel, que gostavam de mim, pediam-me para deixar de aprontar, pois tudo que estava sendo feito de errado iria para o nosso boletim militar – o que era ruim, podendo gerar uma expulsão.
Mesmo aprontando muito e durante os dois anos, não fui expulso porque tinha um comandante que era “meu peixe” e muitas coisas ele não passava para o boletim. Esse meu comandante e “meu peixe” no segundo ano de minha vida militar, teria que ser transferido para outro batalhão e disse pra mim: “olha, vou para longe e não posso te levar. Sairei do comando e você terá duas opções: primeira, parar de aprontar porque quem assumirá o comando do quartel será outra pessoa e poderá fazer todas as anotações dos seus problemas cometidos e isso gerará expulsão, pois só estão faltando duas punições para você ser expulso; Segunda opção, eu ao sair do quartel, você deverá dar seu nome para sair também”.
esse são os amigos com quem eu mais andava nos finais de semanas em Laranjeiras, á época |
Mas não pára por aí não, mesmo fora do quartel, ainda tinha um sentimento de que ainda era militar e, algumas vezes, agia como tal. Aí foi onde começaram os problemas. Portava uma carteirinha de “Perito em Investigações Criminais” – esses cursinhos que se fazia por correspondência e muita gente pensava que tinha entrado na polícia civil, não dizia que era verdade, mas também não dizia que era mentira. Um certo dia, numa festa de São João, soltei fogos em um lugar que não era autorizado pelo juiz da comarca, a polícia veio e mim levou. Ao apresentar essa carteirinha o Delegado reconheceu que não tinha tanta importância assim, mas mim liberou dizendo que não fizesse uso da mesma como policial. O problema era que nunca mim apresentava como policial, mas havia dentro da delegacia policiais que achava que estava agindo assim.
Numa festa pública, frente ao bar de Noelza e a Prefeitura da Cidade, um policial aprece pra mim e diz: “Olha, você está olhando para minha namorada!”. E por diversas vezes vinha a mim e dizia a mesma coisa. Eu sem saber quem era a namorada dele perguntei: “quem é sua namorada”, ele mim apontou para um lado onde tinha centenas de pessoas e não vi. Mas tudo bem... e ele mim aparece novamente, pega a gola de minha camisa na frente de todo mundo e disse a mesma coisa e eu não fiz nada a não ser: “quem é sua namorada que não sei!”. Hora de ir embora, então, fui embora pela frente da Prefeitura, mas aí aparece ele mais outro sem farda e começam a mim agredir fisicamente com porradas, e tudo mais. Dois vigilantes Amintas e outro estavam de serviço e os dois policiais pegaram os cacetetes deles e começaram a espancar-me. Cheguei a desmaiar e o caso foi parar na justiça e os dois policias sendo transferidos de Laranjeiras. Na verdade o caso foi grave, mas a punição deles foi somente a transferência de imediato autorizado pela juíza, a Doutora Sueli, (na época).
Tenho um irmão policial que entrou na polícia ainda enquanto estava no exército ignorou tal situação dos policiais a ponto de querer crescer o problema. Mas a pedido meu e dos nossos familiares ele deixou isso pra lá, mas mim orientou que foi ciúme dos polícias porque eu portava a tal carteirinha. De qualquer forma, as carteirinhas não significavam muito pra mim também, era somente uma identificação como tinha o curso.
Acho que tudo que acontece na nossa vida não podemos sair por aí condenando todo mundo, mas analisar o que aconteceu e por que aconteceu! Foi o meu caso e até hoje acho que o que aconteceu acoberta a frase: quem faz aqui, paga aqui e eu devo ter pagado algo que fiz quando estava no exército: gostava de brigar e bater nos outros indefesos fazendo uso da autoridade que achava que possuía. Assim, finalizo essa parte tida como minha vida no exercito.